sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Jeitinho brasileiro

Desculpem a demora para retornar a postagem! É assim que um blog começa a entrar na obsolescência: passa aquela vontade temporária, e os fracos escritores como eu param. E o blog fica perdido e desatualizado no tempo. Com o tempo, ninguém mais entra, e essa é a mesma história de museus como o da UEPG em Ponta Grossa.

Então! Estava pensando na vida e, em uma das minhas reflexões de chuveiro, em como é bom ser brasileiro! Porque a gente tem aquela virtude do famoso jeitinho brasileiro. Será mesmo uma virtude? Bem, eu acho que depende, porque podemos usar o jeitinho brasileiro ou como uma virtude, uma ferramenta de irreverência, ou para coisas desonestas.

Quando a gente vem para um país muito diferente como o Japão, a gente consegue perceber o que é o jeitinho brasileiro. Atitudes que parecem óbvias para a gente, mas que não existem em alguns lugares fora do Brasil, e cuja natureza é a resolução de problemas, o atalho, e até mesmo a corrupção.

Falando um pouco mais sobre o lado mau do jeitinho brasileiro, e emendando uns atavios na conversa, os nossos queridos políticos usam o pior lado possível do jeiitinho brasileiro. A corrupção é o jeitinho brasileiro com chifrinhos. Fazem coisinhas por baixo do pano que, realmente, em alguns ângulos, em nada parece afetar o povo brasileiro. E esse é o desencargo de consciência que lhes permite continuar. Mas esses ângulos supracitados nada mais são que o ângulo de visão de pessoas pequenas. Políticos com jeitinho = pessoas pequenas. Às vezes, essa igualdade é muito bem descrita por algumas charges de jornal.

Bem, desabafo concluído, vamos retornar ao jeitinho brasileiro.

Vou contar uma historinha de coisas que acontecem no Japão. O leitor mesmo poderá identificar o jeitinho brasileiro, mas eu ajudo. Vamos lá:

1 - Nas estações. Quando você entra numa estação de trem ou metrô no Japão, o bilhete é passado na máquina e lhe é devolvido. Você mantém o bilhete consigo durante a viagem, e na saída da catraca, você passa o bilhete que é engolido pela maquininha. Problema: e se perder o bilhete? Comunicar ao ekiin (funcionário da estação) - normalmente, na pureza de uma sociedade ainda não corrompida nesse aspecto - ele lhe liberará a saída sem passar o bilhete.

Lembro que as linhas de trem comum no Japão, por exemplo, são interligadas, e você pode atravessar uma boa parte do país de trem. Além disso, você compra o bilhete numa máquina automática de acordo com o valor, que pode ser usado para qualquer destino. Se você desembarca num destino diferente, com um valor de trajeto diferente, é só inteirar para o valor correto em uma máquina dentro da estação.

Se eu quiser fazer uma viagem de Nagoya para Tokyo, por exemplo... e chegar na estação de Tokyo tendo perdido o bilhete, o certo (dentro deste paradigma estabelecido) é eu comunicar ao funcionário da estação para que ele me libere a saída. Isso acontece mesmo aqui! Sem dúvidas! Porque o povo não faz o seguinte:

- Compra um bilhete barato para entrar na estação e alega que o perdeu. Caso seja cobrado, diz que estava numa estação próxima. Em vez de pagar, sei lá, 5000, paga 200. Quem vai provar que estava mentindo? Ora, se a única prova é o bilhete, e este está supostamente perdido?

Éééé... malacada... aqui no Japão as coisas são assim. Se muita gente tivesse esse mau jeitinho, imagine o prejuízo. É claro que deve ter uns safados, mas nem se compara. E por isso que as coisas não avançam no Brasil em alguns aspectos. Porque o mau jeitinho não deixa.

2 - Aproveitando a oportunidade, mais uma historinha, mas de um lado bom do jeitinho brasileiro. Um jeitinho que às vezes faz falta as pessoas terem aqui.

Assim como a história citada no último post, sobre a bibiloteca, esse também é um bom exemplo. Uma amiga que me contou que foi ao salão cortar o cabelo... e bem, tem as revistas para ver que corte você gosta, e tal, né? Igual no Brasil. Minha amiga gostou de um corte de cabelo, mas o cabelo dela era um pouco mais comprido do que o da foto, uns 5 centímetros, e precisaria ajustar.

Observação no meio do caminho - salão de beleza é caríssimo no Japão! Graças a Deus para mim, que não tenho cabelo, existem uns de 1000 ienes (um pouco mais que 10 dólares) para dar a aparada de sempre. E já é caro...

Bem... minha amiga simplesmente disse para o cabeleireiro que queria fazer aquele corte da revista. Naturalmente, precisaria ajustar. Mas algo simples, sem muita mudança. Sabe o que o cabeleireiro disse? Que não podia fazer o corte porque aquele era 5 cm mais curto. Ai meu Deus!

O fato não é o cara ser chato, o fato é que mesmo sendo bem estudado e seja lá o que for, ele não enxerga o possibilidade de ajustar o corte! Um ajuste que pode também ser considerado um jeitinho brasileiro dos mais simples, não acha?

Questão cultural, gente.

E chega de verborragia por hoje.


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