domingo, 31 de maio de 2009

Os Kanjis

Último post do mês de maio!

漢字の素晴らしさ

Não tenho muito pontual pra comentar hoje, mas eu tava pensando no quanto os KANJIS na língua japonesa acabam sendo fundamentais.

Para quem não sabe, os Kanjis são os ideogramas de uso corrente no japonês, que vieram do chinês (letras que representam ideias). São usados em conjuntos com o hiragana e o katakana, que são, grosso modo, os "alfabetos silábicos" de fonogramas (letras que representam sons de sílabas) do japonês. Basicamente, esses três conjuntos de caracteres coexistem na língua corrente, cada um com uma finalidade. No mandarim, em contrapartida, só se usam os ideogramas, e não os silabários.

O japonês é uma língua que pode chegar a ter 20 palavras de pronúncia exatamente igual. Se isso fosse escrito apenas com fonogramas, como os nossos homógrafos, por exemplo, seria impraticável distinguir os 20 ou mais diferentes significados.
Então, nesse caso, o que diferencia esses homófonos são os kanjis.
Às vezes o diferença dos significados é muito sutil, às vezes é gritante. E só os kanjis, que são como fotos do significado das palavras, para resolver isso.

O problema é que é muito kanji! É muito trabalhoso para um estrangeiro saber usar os kanjis, compreendê-los completamente, o que é muito difícil de encontrar. Atualmente se usam mais de 2000 kanjis de forma corrente no Japão, e espera-se que com essa quantidade se possa ler um jornal ou revista tranquilamente, mas ainda assim às vezes não é 100% possível sem a ajuda de um dicionário.

Os kanjis estão na moda no Brasil, com significados bonitinhos e positivistas, em adesivos, tatuagens, camisetas... Aqui, o japonês, ao saber disso, acha no mínimo estranho, e às vezes engraçado, beirando ao ridículo. Ora, é o mesmo que soubessem que em algum país do mundo estão tatuando palavras em português só porque é legal!

Lembrei-me agora do fato de que muitos idiotas tatuam palavras erradas ou mal-escritas no corpo... é o cúmulo da burrice você fazer uma tatuagem sem antes checar se aquilo tem mesmo o significado que você deseja. Vítima disso chegou a ser o Rodrigo Santoro na novela Mulheres Apaixonadas. Ele queria tatuar "Liberdade" no bração musculoso dele, e acabou, devido a alguma procura infeliz no dicionário, da parte de algum assistente leviano, tatuando "grátis", decerto porque em inglês "livre" e "grátis" se diz "free". Por muitos capítulos o coitado apareceu malhando a Paloma Duarte com a tatuagem no braço, e o povo brasileiro adorando.

Voltando ao início da conversa, de que os kanjis são fundamentais, todo mundo que chega aqui como intercambista tem como maior barreira no japonês justamente os kanjis. Mas depois que passa aquela fase assustadora, dá pra perceber como que é interessante e rica a língua graças à existência dessas milhares de letrinhas. Com uma letrinha você pode escrever muitas palavras, muitos sobrenomes, direções e coisas que precisaria, em línguas ocidentais, de no mínimo umas 5 letras para representar. Sem falar na arte que os kanjis representam, dando base à caligrafia, à simbologia e com toda a história que eles trazem.

Mas meu Vô ainda tem razão. A gente tem uma língua riquíssima com apenas 23-26 letras... pra que que japonês precisa de tanta pra fazer a mesma coisa????

Falow!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ler

Olá pessoal!! Agora demorei quase quase 15 dias para atualizar o blog. Daqui a pouco será só um post por mês...

Hoje vou falar sobre como os japoneses leem. Falando nisso, o acento de "lêem" também caiu, né? Essa reforma da língua portuguesa, banalização da ignorância, sobe-me o sangue.

Onde você anda, você vê japoneses com livros. Em uma loja de conveniència, os famosos "konbinis", tem a seção de revistas e aqueles livrinhos baratos, tipo "Quem mexeu no meu queijo", "Como se comportar no mundo dos negócios" (título esse inventado por mim), e também tem os mangás (quadrinhos japoneses), com e sem meninas mostrando o biquíni (o que corresponde a uma Playboy aqui). Quando há movimento na loja, você vê aquelas pessoas folheando esses materiais, muitas vezes, lendo-os descaradamente, sem comprar.

No metrô ou em qualquer transporte público, pode-se dizer que no mínimo cerca de 30% das pessoas está com algum material de leitura à mão. Ou um romance, ou um jornal, ou aquele estudante de uniforme está com o caderno ou o livro didático dando uma revisada na matéria. 

Eu, de cara assim, não tenho nenhum dado, mas eu acredito que o mercado editorial japonês é uma indústria da fortuna. Existem aqueles livrinhos de bolso chamados "bunko", que são lançados aos montes por diversas editoras todos os dias, tanto livros escritos por muitos autores japoneses, como obras antigas ou obras estrangeiras. Aquilo custa barato, a partir de 4 dólares até 10 dólares, e são comprados pelos japoneses como o brasileiro compra aquele suquinho Tampico quando ele passa no posto de gasolina.

Muitas coisas viram livros no Japão. Livros de estudo para testes de proficiência, concursos públicos, etc., são lançados aos montes e comprados avidamente por quem está por fazer essas provas. Alguns são acompanhados até por um pedaço de plástico vermelho, que ajuda a esconder as respostas dos problemas enquanto se está resolvendo. Depois você tira o plástico da resposta que está escrita em vermelho e esta aparece, sem você precisar indo lá na última página ou virando o livro de ponta-cabeça para saber se está certo o que você resolveu.

Mesmo com o advento da internet, com celulares que só falta fazerem café, Ipods com softwares de leitura e notebooks de todos os tamanhos, é fascinante ver um japonesinho de 12 anos lendo um livrinho que simplesmente lhe é de interesse, enquanto vai ou volta da escola. Não é à toa que nesse ponto e em muitos outros, a educação e o próprio costume japonês trazem coisas muito positivas, e que aqui o analfabetismo é quase nulo.

Voltando a falar sobre o preço dos livros, quando eu lembro do Brasil - sim, o caso específico do meu País - dá vontade de chorar. Primeiramente, lembremo-nos que o Japão é um país de primeiro mundo: então, comparando com nós brasileiros, normalmente o salário deles é, haja crise ou não, um salário bom. Pensemos também que 100 ienes equivalem a cerca de um dólar. Pois bem, os livros fabricados no Japão, por mais bonitos e de bom material que sejam, livros técnicos ou livros de arte, dificilmente ultrapassam os cem dólares. Eles vão ultrapassar os cem dólares em alguns casos, é claro, mas é mais provável que isso aconteça devido à capa dura e ao tamanho do livro do que devido aos impostos do governo.

Os livros técnicos e importados, em inglês, que tem em algumas boas livrarias, dificilmente ficam mais caros do que nos Estados Unidos ou na Amazon.com. Eu comprei um livro editado pela Oxford, que é usado pelo meu laboratório, de nível altíssimo, e considerado caríssimo pelos japoneses. Custou 70 dólares. Na Amazon.com dos EUA ele está custando 63 dóalres.

O que eu quero dizer é que, considerando-se o potencial de compra dos japoneses, um livro poderia custar muito mais caro, que mesmo assim não teria um impacto tão alto no orçamento como o que um brasileiro comum sofre, quando adquire um livro de qualquer tipo no Brasil.

No Brasil, o livro não é ainda algo que qualquer um possa comprar. Fico feliz, contudo, de ver que com o tempo, os preços dos livros estão se tornando mais populares, mas, econômica e culturalmente, o hábito da leitura ainda é apenas privilégio de uma parcela da população.

O Japão, em contrapartida, não perde nada, só ganha, com cada centavo investido em livros, com cada minuto que as livrarias ficam abertas e entupidas de gente, com cada metro quadrado que é preenchido por pilhas de um mesmo lançamento que vende rapidamente. Fora o lucro homérico que as grandes redes de sebos (que aqui funcionam de forma fantástica) ganham.

Quem sabe um dia o mercado editorial e o governo brasileiro percebam que o esforço ainda é pouco, o que está a menos de meio palmo de seus narizes.

Isso tudo o que eu falei é apenas um item que comprova que o Japão ainda pode ser considerado um país em que você vive aquela vida normal, como de história em quadrinhos: num lugar bonitinho, em que as pessoas ainda fazem coisas normais, como crianças que brincam na rua e compram sorvete do sorveteiro, trabalhadores que tomam um trem ou leem um jornal no banco da praça sem preocupação.

Falow!!!


sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um fim de semana

Olá people!

Então, passou-se uma semana desde o último post.
Hoje já é sexta-feira à noite, enquanto no Brasil é hora de almoço da mesma sexta-feira, e amanhã temos um lindo fim-de-semana pela frente. O que fazer no fim-de-semana?

Eu tenho algumas atividades da faculdade para concluir. Mas, como bom procrastinador que sou, deixo sempre para a última hora. E, num fim de semana, para o último plano, a não ser que me dê um impulso de fazer as coisas num momento totalmente inusitado.

Excluindo, portanto, atividades acadêmicas, o que eu poderia fazer num final de semana aqui em Nagoya?

Tem muitas coisas. Vou citar só alguns exemplos prediletos.

- Andar de bike
- Karaokê a noite toda
- Comer fora
- Ir a alguma loja de departamentos e ficar boiando
- Pegar um trem da JR (Japanese Railways) sem destino certo e parar em alguma cidadezinha nos arredores que tenha algum templo ou parque bonito
- Participar de alguma atividade cultural - gratuita ou barata, de preferência

São todas atividades muito recompensadoras e saudáveis. cada uma com seus tokuchous (pontos positivos).

Dentro de mim, está me dando uma ânsia de fazer a loucura de entrar num trem sem destino e ir até onde der tempo. Eu confesso que só não fiz isso ainda porque gasta dinheiro, viu? Mas vou comprar um bilhete chamado 18-kippu, na época propícia, e fazer uma turnê da loucura para algum lugar bem distante desse meu Japão, explorar os vilarejos mais escondidos, que tal?

Karaokê a noite toda é mais uma opção. Você paga um preço único e se diverte rindo da cara dos outros ou pagando mico, e em alguns casos, se emocionando com a ótima voz de alguns que cantam muito bem. Isso geralmente é regado a bebidas não-alcoólicas, alcoólicas ou sorvetes. Para mim, que gosto de pagar mico e de música japonesa, é uma perfeita combinação.

Oportunamente eu entro em detalhes sobre essas e outras atividades!

Abraços!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sinais de um país retrógrado


Olá, pessoal! Ja fez duas semanas que eu postei aqui pela última vez. Realmente aquele acesso de preguiça continuou me dominando, e a falta de ideias também. Mas bem, vamos lá...


O Japão é a segunda potência do mundo, tem tecnologia de ponta, é um país extremamente desenvolvido, com uma educação ava
nçada e muito dinheiro. Isso é fato. Entretanto, no dia-a-dia ainda se encontram muitos sinais de um Japão retrógrado, mais velho do que os dinossauros, com a mesma estrutura ou atitude de antes de perder a guerra.

As contas de banco aqui no Japão, em geral, além do ca
rtão, possuem um Tsuuchou, que é uma caderneta como eram as antigas cadernetas de poupança, onde se registra toda a movimentação na conta cada vez que se faz uma operação no ATM. Eu acho fantástico, pois a gente não precisa ficar se batendo com aqueles extratos, tem a movimentação detalhada da conta sempre à mão, entre outras vantagens.

Eu fui alterar meu endereço no cadastro do banco, pois mudei recentemente, e como no tsuuchou vem impresso o endereço, eu fiquei imaginando como seria alterado. Será que eles iam colocar uma etiqueta? Ou
será que iam fazer uma nova caderneta? ... em alguns segundos, veio-me à mente a ideia mais bizarra possível, no momento em que a minha amiga Kaoru estava fazendo o mesmo... pensei: "Ela vai riscar com caneta o endereço antigo, carimbar em cima e depois escrever o novo endereço a mão."

Num país como o Japão, jamais se imaginaria isso... mas foi o que aconteceu! hahahaha


Anexo a foto de como ficou o bagaço. (acima)



Sem contar que, se você erra um pontinho em alguma letra em formulário de banco, eles te pedem para fazer um risco em cima, corrigir e ASSINAR ao lado (ou carimbar com o Inkan, o que se usa como assinatura aqui). Como eu assino o meu nome completo, imagine como fica um formulário meu, afinal eu vivo rasurando! A última vez que isso me aconteceu, eu perdi a paciência e dei uma gargalhada na cara da moça. Mas a gente entende... regras são regras. Principalmente aqui nesta terrinha.

Abraços!