Perder algo que a gente gosta é muito dolorido. Nem se fala de entes queridos... mas não sei como considerar um dos monumentos que mais levou minha terrinha, Ponta Grossa, ao conhecimento do mundo, como um ente querido ou como um bem material. Porque o Cocozão era mais que isso. Era cultura, era alegria, era simbolismo.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
O monumento dos Campos Gerais
Perder algo que a gente gosta é muito dolorido. Nem se fala de entes queridos... mas não sei como considerar um dos monumentos que mais levou minha terrinha, Ponta Grossa, ao conhecimento do mundo, como um ente querido ou como um bem material. Porque o Cocozão era mais que isso. Era cultura, era alegria, era simbolismo.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Jeitinho brasileiro
Então! Estava pensando na vida e, em uma das minhas reflexões de chuveiro, em como é bom ser brasileiro! Porque a gente tem aquela virtude do famoso jeitinho brasileiro. Será mesmo uma virtude? Bem, eu acho que depende, porque podemos usar o jeitinho brasileiro ou como uma virtude, uma ferramenta de irreverência, ou para coisas desonestas.
Quando a gente vem para um país muito diferente como o Japão, a gente consegue perceber o que é o jeitinho brasileiro. Atitudes que parecem óbvias para a gente, mas que não existem em alguns lugares fora do Brasil, e cuja natureza é a resolução de problemas, o atalho, e até mesmo a corrupção.
Falando um pouco mais sobre o lado mau do jeitinho brasileiro, e emendando uns atavios na conversa, os nossos queridos políticos usam o pior lado possível do jeiitinho brasileiro. A corrupção é o jeitinho brasileiro com chifrinhos. Fazem coisinhas por baixo do pano que, realmente, em alguns ângulos, em nada parece afetar o povo brasileiro. E esse é o desencargo de consciência que lhes permite continuar. Mas esses ângulos supracitados nada mais são que o ângulo de visão de pessoas pequenas. Políticos com jeitinho = pessoas pequenas. Às vezes, essa igualdade é muito bem descrita por algumas charges de jornal.
Bem, desabafo concluído, vamos retornar ao jeitinho brasileiro.
Vou contar uma historinha de coisas que acontecem no Japão. O leitor mesmo poderá identificar o jeitinho brasileiro, mas eu ajudo. Vamos lá:
1 - Nas estações. Quando você entra numa estação de trem ou metrô no Japão, o bilhete é passado na máquina e lhe é devolvido. Você mantém o bilhete consigo durante a viagem, e na saída da catraca, você passa o bilhete que é engolido pela maquininha. Problema: e se perder o bilhete? Comunicar ao ekiin (funcionário da estação) - normalmente, na pureza de uma sociedade ainda não corrompida nesse aspecto - ele lhe liberará a saída sem passar o bilhete.
Lembro que as linhas de trem comum no Japão, por exemplo, são interligadas, e você pode atravessar uma boa parte do país de trem. Além disso, você compra o bilhete numa máquina automática de acordo com o valor, que pode ser usado para qualquer destino. Se você desembarca num destino diferente, com um valor de trajeto diferente, é só inteirar para o valor correto em uma máquina dentro da estação.
Se eu quiser fazer uma viagem de Nagoya para Tokyo, por exemplo... e chegar na estação de Tokyo tendo perdido o bilhete, o certo (dentro deste paradigma estabelecido) é eu comunicar ao funcionário da estação para que ele me libere a saída. Isso acontece mesmo aqui! Sem dúvidas! Porque o povo não faz o seguinte:
- Compra um bilhete barato para entrar na estação e alega que o perdeu. Caso seja cobrado, diz que estava numa estação próxima. Em vez de pagar, sei lá, 5000, paga 200. Quem vai provar que estava mentindo? Ora, se a única prova é o bilhete, e este está supostamente perdido?
Éééé... malacada... aqui no Japão as coisas são assim. Se muita gente tivesse esse mau jeitinho, imagine o prejuízo. É claro que deve ter uns safados, mas nem se compara. E por isso que as coisas não avançam no Brasil em alguns aspectos. Porque o mau jeitinho não deixa.
2 - Aproveitando a oportunidade, mais uma historinha, mas de um lado bom do jeitinho brasileiro. Um jeitinho que às vezes faz falta as pessoas terem aqui.
Assim como a história citada no último post, sobre a bibiloteca, esse também é um bom exemplo. Uma amiga que me contou que foi ao salão cortar o cabelo... e bem, tem as revistas para ver que corte você gosta, e tal, né? Igual no Brasil. Minha amiga gostou de um corte de cabelo, mas o cabelo dela era um pouco mais comprido do que o da foto, uns 5 centímetros, e precisaria ajustar.
Observação no meio do caminho - salão de beleza é caríssimo no Japão! Graças a Deus para mim, que não tenho cabelo, existem uns de 1000 ienes (um pouco mais que 10 dólares) para dar a aparada de sempre. E já é caro...
Bem... minha amiga simplesmente disse para o cabeleireiro que queria fazer aquele corte da revista. Naturalmente, precisaria ajustar. Mas algo simples, sem muita mudança. Sabe o que o cabeleireiro disse? Que não podia fazer o corte porque aquele era 5 cm mais curto. Ai meu Deus!
O fato não é o cara ser chato, o fato é que mesmo sendo bem estudado e seja lá o que for, ele não enxerga o possibilidade de ajustar o corte! Um ajuste que pode também ser considerado um jeitinho brasileiro dos mais simples, não acha?
Questão cultural, gente.
E chega de verborragia por hoje.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Sistemática
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Bicicletas
sábado, 7 de fevereiro de 2009
As sacolinhas de mercado
Às vezes no Brasil se ouve falar muito da consicência ecológica sobre o consumo excessivo de plástico, principalmente nas tão utilizadas sacolinhas de polietileno de supermercado. Já existe um certo incentivo, mas muito tímido, sobre usar a sua própria sacola para fazer as compras.
Quando cheguei ao Japão me assustei. A cultura do uso da MY BAG é muito difundida, aquelas senhorinhas bonitinhas andando com suas próprias sacolas, mais resistentes, indo ao mercado fazer a compra do dia. Aqui a sacola de plástico existe na maioria das lojas, mas a sua utilização tem um sentido diferente do que na nossa terra.
O que é preciso ressaltar primeiramente é que, talvez devido ao espaço reduzido, à ausência de espaço para despensa na casa, e também pelo grande consumo de perecíveis frescos (especialmente peixes e frutos do mar), o japonês não tem o costume de fazer o "rancho", o "fornecimento", isto é, a compra do mês ou da semana. O costume do japonês é dar um pulo no mercado várias vezes por semana, normalmente até todos os dias, comprar o alimento que será utilizado naquele dia.
De qualquer maneira, assim como no Brasil, as famílias que trabalham, especialmente em que o casal trabalha, entope o supermercado no sábado com as crianças, fazendo compras maiores. Mas não chega perto do volume de compras que o brasileiro faz... às vezes 3, 4 carrinhos cheios.
Então, existe um favorecimento ao uso da sua própria sacola aqui no Japão. No Brasil é mais difícil a implantação dessa cultura, não só pela conscientização do povo que se faz necessária, mas também pelo volume de compras.
No Japão, o que algumas redes grandes de supermercados estão praticando, como forma de incentivar e, ao mesmo tempo, fazer o povo se acostumar a trazer sua própria sacola, é cobrá-la. Isso mesmo, cobrar 5 ienes por sacola. Hoje em dia, 5 ienes giram em torno de 13 centavos. Então, se você esquece sua sacola, ou necessita de mais uma, você pode adquiri-la no fechamento da compra.
Detalhe: o cliente não é feito de bobo. A sacola, comparada com os padrões brasileiros, é maior e muito mais espessa, o que permite ao cliente levar muitas coisas sem precisar "reforçar" a sacola, e reaproveitá-la muitas vezes.
Por outro lado, normalmente o cliente que não precisa adquirir a sacola no supermercado ganha um "ponto" por compra, e juntando tantos pontos em um "point card", ele ganha um desconto (normalmente girando em torno de 100 ienes, um pouco mais de um dólar) quando preenche os pontos do cartão. Parece pouco, mas em se tratando de cultura japonesa, 1 dólar é um bom desconto, e acredite: o povo é incentivado! O pessoal está sempre cadastrando ou carimbando os pontos no cartãozinho. Se fosse no Brasil, um desconto de 1 real para cada 20 sacolas não utilizadas, o povo jogaria o cartãozinho de descontos fora... e pior ainda, provavelmente no chão, onerando os funcionários da limpeza...
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
O inicio
Prólogo
Estar no Japão é para mim um privilégio. Para pessoas como eu, apegada demasiadamente aos amigos e à família, também se trata de um grande desafio. Mas, como freqüentemente ouço, principalmente do meu professor orientador, tenho só a agradecer por receber verba federal japonesa para fazer uma pós-graduação, que vai apenas me trazer benefícios, diferente dos muitos brasileiros dekasegis que estão tendo de voltar ao Brasil devido à crise econômica que se instaurou no mundo todo.
Num país seguro como o Japão, ao andar a pé ou de bicicleta, em diversos momentos me flagro atingindo o limite da irracionalidade, quando meu pensamento despreocupado com possíveis assaltos ou outros perigos vagueia por aí. Além disso, freqüentemente topo com situações irrelevantes aqui neste lugar, que no Brasil são coisas totalmente interessantes, ou absurdas, ou exemplares. Alguns desses pequenos pontos, por muitos considerados triviais, desejo mostrar aqui nos posts desse blog. Da mesma forma, quando algum desses meus pensamentos transcendentes demonstrar um pouquinho de cultura que seja, ainda que inútil, transmiti-lo-ei também aqui. Peço desculpas antecipadamente pela possível não-adaptação à nova ortografia unificada dos países de língua oficial portuguesa, pois nessa fase de transição, dou-me o luxo de uma "licença literária".
Raphael E. Prestes Salem - 23 para 24 anos - Paranaense, pontagrossense com orgulho - Universidade de Nagoya - Mestrado em Engenharia e Design Molecular - Fevereiro de 2009
O troco correto
Quantas vezes estamos no supermercado e, na hora de receber o troco, o caixa fica nos "devendo" um ou dois centavos? No Japão isso não acontece.
O brasileiro nunca deu muito valor para as moedas. Os níqueis, ou miúdos, como se diz por aí, nunca tiveram um valor digno de ser utilizado intensamente. Quando o Real transformou-se a atual moeda do Brasil, em 1o. de julho de 1994, as moedas passaram a ter valor. São elas: 1, 5, 10, 25, 50 centavos e 1 real. Ora, porém, se o Governo não dá valor para as moedas, por que que o povo vai dar? Nunca o povo brasileiro foi exemplo para o Governo. Este ignora tudo o que lhe passa aos olhos e é honesto.
Eu digo isso porque, com a crescente desvalorização do real, moedinhas como as de 1 e 5 centavos passaram a ter valor ainda mais ínfimo. E a Casa da Moeda do Brasil parou de produzir as moedas de um centavo. Pois bem, a falta de moedas de um centavo, somada ao desinteresse do povo em mantê-las no bolso, fez com que elas se tornassem nada mais que objetos incômodos em fundo de gaveta. Muitas vezes, ajuntados de centenas dessas moedas dentro de uma latinha qualquer são ótimos apoios para segurar portas.
Há alguns anos atrás, quando se ia ao supermercado ou ao banco, e o caixa estava com falta de moedas de um centavo, o atendente do caixa polidamente dizia: "Posso ficar lhe devendo um centavo?". Retornando ao conceito de que o brasileiro não dá valor para um centavo, é fácil perceber que muitos ignoravam até mesmo essas palavras, que custando temporalmente mais do que um centavo para ser faladas, deixaram de sê-lo.
Enfim, hoje, quando vamos aos mesmos caixas, a grande maioria dos operadores, em casos que o valor total das compras termina com R$ xx,x9 ou xx,x8, simplesmente arredondam o valor para cima, sem avisar ao cliente, e dão o troco faltando as famigeradas moedinhas de um centavo.
Podem me chamar de chato! Podem me chamar de sistemático! Eu não chegaria ao extremo de dizer que esses arredondamentos são roubo - tampouco diria que é culpa dos operadores de caixa não haver as moedas que há muito deixaram de ser produzidas pelo governo (e as poucas que restam estão calçando portas). Mas, pelo amor de Deus... cadê a educação?
Você acha correto ir à loja de doces e, deliberadamente, como amostra, sem pedir permissão à dona da loja, ir experimentando um docinho de cada? Um chicletes de cada? Soa no mínimo estranho, a ausência de aviso ou de permissão. O mesmo pode ser considerado para o caixa que não pede desculpa pelo troco estar incorreto! E as administrações, os recursos humanos, que não se preocupam em incluir esse tipo de educação no treinamento de seus funcionários? A banalização de centavinhos é apenas um reflexo da sociedade brasileira no aspecto de "tanto faz como tanto fez", para coisas muito mais importantes do que uma mera moeda. Para a fome, para a impunidade, para a violência, os "verdadeiros palavrões da língua portuguesa", como dizia Dercy Gonçalves.
O simples pagamento de uma compra no Japão
A moeda corrente no Japão é o iene, há muitas décadas. A taxa de câmbio atual, fora da situação de crise, sempre foi muito estável, aproximadamente 100 ienes para 1 dólar. Muitas pessoas pensam erroneamente que o iene é um dinheiro desvalorizado, porque 100 ienes equivalem a um dólar. Mas o que mede a valorização de uma moeda não é de maneira alguma o número de unidades monetárias. A estabilidade, todavia, é um bom medidor da valorização de uma moeda, e o iene é uma moeda muito estável. 1 iene, portanto, corresponde a mais ou menos (hoje em dia um pouco mais) que um centavo de dólar.
Assim como um centavo de real, dificilmente se compra algo no Japão tendo apenas 1 iene em mãos, mas essas moedinhas aqui são muito importantes. São pequenas moedinhas de alumínio que existem como praga. E a propósito, o alumínio é um metal relativamente caro (como bom engenheiro de materiais eu não poderia deixar de citar isso).
É importante ressaltar também que o Japão não tem a cultura da barganha, da pechincha. É totalmente diferente da China! Se, em qualquer lugar, o preço é X e não está anunciada nenhuma promoção, nenhum desconto de época, é fortemente recomendável que você hesite em chegar ao caixa e tentar negociar com o vendedor um arredondamento para baixo ou um desconto, nem que este seja de 1 iene! Aí está a importância das moedinhas de alumínio: na hora de fechar as contas, elas fazem a diferença!
E a relação reciprocamente respeitosa entre cliente - que não pechincha - e vendedor - que dá o troco correto - gera uma relação muito amigável no comércio. A filosofia aqui é mais ou menos a seguinte: "Eu tenho o meu preço pelo produto, pelo serviço. Se você não está contente com ele, eu lhe recomendo que procure outro lugar.". Isso obviamente não é dito, mas é sentido, inclusive em lojas de donos japoneses no Brasil. Você pode perceber, se for à Liberdade em Sampa, por exemplo. Não é antipatia, não é arrogância, não é burrice de jogar clientes fora. É simplesmente um aspecto cultural.
Imagine que bacana seria se o Brasil, com sua ótima cultura de pechincha, junto com a educação de praticar um preço tal e dar sempre o troco correto, ou desculpar-se por não poder fazê-lo, ou simplesmente reduzir o preço como cortesia, convivessem pacificamente? Pessoas com esse conceito meu, muitas vezes consideradas chatas, passariam despercebidas, e todo o mundo estaria feliz... e sem prejuízo, a não ser que quisesse!