quarta-feira, 20 de maio de 2009

Ler

Olá pessoal!! Agora demorei quase quase 15 dias para atualizar o blog. Daqui a pouco será só um post por mês...

Hoje vou falar sobre como os japoneses leem. Falando nisso, o acento de "lêem" também caiu, né? Essa reforma da língua portuguesa, banalização da ignorância, sobe-me o sangue.

Onde você anda, você vê japoneses com livros. Em uma loja de conveniència, os famosos "konbinis", tem a seção de revistas e aqueles livrinhos baratos, tipo "Quem mexeu no meu queijo", "Como se comportar no mundo dos negócios" (título esse inventado por mim), e também tem os mangás (quadrinhos japoneses), com e sem meninas mostrando o biquíni (o que corresponde a uma Playboy aqui). Quando há movimento na loja, você vê aquelas pessoas folheando esses materiais, muitas vezes, lendo-os descaradamente, sem comprar.

No metrô ou em qualquer transporte público, pode-se dizer que no mínimo cerca de 30% das pessoas está com algum material de leitura à mão. Ou um romance, ou um jornal, ou aquele estudante de uniforme está com o caderno ou o livro didático dando uma revisada na matéria. 

Eu, de cara assim, não tenho nenhum dado, mas eu acredito que o mercado editorial japonês é uma indústria da fortuna. Existem aqueles livrinhos de bolso chamados "bunko", que são lançados aos montes por diversas editoras todos os dias, tanto livros escritos por muitos autores japoneses, como obras antigas ou obras estrangeiras. Aquilo custa barato, a partir de 4 dólares até 10 dólares, e são comprados pelos japoneses como o brasileiro compra aquele suquinho Tampico quando ele passa no posto de gasolina.

Muitas coisas viram livros no Japão. Livros de estudo para testes de proficiência, concursos públicos, etc., são lançados aos montes e comprados avidamente por quem está por fazer essas provas. Alguns são acompanhados até por um pedaço de plástico vermelho, que ajuda a esconder as respostas dos problemas enquanto se está resolvendo. Depois você tira o plástico da resposta que está escrita em vermelho e esta aparece, sem você precisar indo lá na última página ou virando o livro de ponta-cabeça para saber se está certo o que você resolveu.

Mesmo com o advento da internet, com celulares que só falta fazerem café, Ipods com softwares de leitura e notebooks de todos os tamanhos, é fascinante ver um japonesinho de 12 anos lendo um livrinho que simplesmente lhe é de interesse, enquanto vai ou volta da escola. Não é à toa que nesse ponto e em muitos outros, a educação e o próprio costume japonês trazem coisas muito positivas, e que aqui o analfabetismo é quase nulo.

Voltando a falar sobre o preço dos livros, quando eu lembro do Brasil - sim, o caso específico do meu País - dá vontade de chorar. Primeiramente, lembremo-nos que o Japão é um país de primeiro mundo: então, comparando com nós brasileiros, normalmente o salário deles é, haja crise ou não, um salário bom. Pensemos também que 100 ienes equivalem a cerca de um dólar. Pois bem, os livros fabricados no Japão, por mais bonitos e de bom material que sejam, livros técnicos ou livros de arte, dificilmente ultrapassam os cem dólares. Eles vão ultrapassar os cem dólares em alguns casos, é claro, mas é mais provável que isso aconteça devido à capa dura e ao tamanho do livro do que devido aos impostos do governo.

Os livros técnicos e importados, em inglês, que tem em algumas boas livrarias, dificilmente ficam mais caros do que nos Estados Unidos ou na Amazon.com. Eu comprei um livro editado pela Oxford, que é usado pelo meu laboratório, de nível altíssimo, e considerado caríssimo pelos japoneses. Custou 70 dólares. Na Amazon.com dos EUA ele está custando 63 dóalres.

O que eu quero dizer é que, considerando-se o potencial de compra dos japoneses, um livro poderia custar muito mais caro, que mesmo assim não teria um impacto tão alto no orçamento como o que um brasileiro comum sofre, quando adquire um livro de qualquer tipo no Brasil.

No Brasil, o livro não é ainda algo que qualquer um possa comprar. Fico feliz, contudo, de ver que com o tempo, os preços dos livros estão se tornando mais populares, mas, econômica e culturalmente, o hábito da leitura ainda é apenas privilégio de uma parcela da população.

O Japão, em contrapartida, não perde nada, só ganha, com cada centavo investido em livros, com cada minuto que as livrarias ficam abertas e entupidas de gente, com cada metro quadrado que é preenchido por pilhas de um mesmo lançamento que vende rapidamente. Fora o lucro homérico que as grandes redes de sebos (que aqui funcionam de forma fantástica) ganham.

Quem sabe um dia o mercado editorial e o governo brasileiro percebam que o esforço ainda é pouco, o que está a menos de meio palmo de seus narizes.

Isso tudo o que eu falei é apenas um item que comprova que o Japão ainda pode ser considerado um país em que você vive aquela vida normal, como de história em quadrinhos: num lugar bonitinho, em que as pessoas ainda fazem coisas normais, como crianças que brincam na rua e compram sorvete do sorveteiro, trabalhadores que tomam um trem ou leem um jornal no banco da praça sem preocupação.

Falow!!!


Nenhum comentário:

Postar um comentário